domingo, 22 de maio de 2011

Como fazer uma boa redação: primeiros passos...

Alguém se lembra de como começou a falar? Talvez recorde, porque a mãe contou, a primeira palavra.

Mas a técnica, a articulação das cordas vocais para produzir um som inteligível para outras pessoas, acredito ser impossível lembrar.

Isso porque não sabemos: falamos, aprendemos outras palavras e logo formamos frases. A chave para falar está no que foi dito anteriormente, aprender. Outras pessoas nos ensinam a falar e assim adquirimos essa capacidade tão importante para nossa vida.

Como aprendemos a nos comunicar se o nosso entendimento ainda é embrionário? No caso da fala, ouvimos e imitamos, o que quer dizer que por meio dos nossos sentidos – audição, tato, paladar, visão, olfato – temos contato com o mundo que nos cerca e o conhecemos. Não porque já somos espertos o suficiente para raciocinar sobre esse fato, mas porque imitamos o que outras pessoas fazem. Imitamos continuamente: na infância, os pais, na adolescência, pessoas que admiramos, na idade madura, talvez, ainda pessoas que admiramos, mas também a nós mesmos, quer dizer, já temos uma personalidade formada a tal ponto que quem nos conhece bem é capaz de identificar nossas ações sem nos ver agindo: “parece coisa do Fulano”.

Com a redação acontece a mesma coisa. As primeiras palavras são como o alfabeto que a professora do ensino fundamental nos ensinou; as primeiras frases que escrevemos são mera cópia do que nos dizem, quase um ditado. Mas para escrever uma redação, como é solicitado em um vestibular, é preciso mais do que copiar, é preciso ter uma “personalidade formada”, ter “maturidade” de raciocínio e de escrita suficientes para elaborar um texto inteligente. Como adquirimos essa “maturidade”?

Em primeiro lugar, lendo. Se quem não ouve, também não consegue falar, quem não lê é “surdo” para a escrita. É a leitura que nos possibilita a imitação, porque cada bom autor tem um estilo, uma personalidade que, no texto, percebemos na escolha das palavras, no tom – suave ou irado; franco ou irônico – na agudeza dos seus raciocínios, na veracidade (ou falsidade) dos seus argumentos, etc. Mesmo sem percebermos – como a criança que fala Mamãe –, o ato da leitura nos torna capazes de “falar” no texto, ou seja, escrever.

Mas não basta só ler para construir uma boa redação. É necessário também aprender a raciocinar. Talvez pareça ofensivo dizer a uma pessoa que ela precisa pensar. Entretanto, não estamos chamando ninguém de burro, mas sim admoestando a um raciocínio próprio para que possa fazer um bom texto: o juízo crítico. Por juízo crítico entendo a capacidade de ouvir ou ler uma informação e analisá-la. Não digo “duvidar por duvidar”, mas avaliar se é digna de crédito. Quantas pessoas não lêem um e-mail e propagam a informação recebida sem sequer pensar que aquele texto pode ser mentiroso? Ou assistem a algo no telejornal, ou lêem numa revista e não refletem que pode haver interesse em divulgar informação distorcida ou mesmo enganosa? Em outro momento veremos como identificar a credibilidade do que lemos e ouvimos.

Com esses dois primeiros passos, ler bons textos e raciocinar criticamente, já estamos aptos a andar em direção a uma boa escrita. Se somos capazes de imitar procedimentos bem-sucedidos que vimos em artigos, livros, crônicas, etc., e se somos capazes de “conversar” com os textos que lemos, seja concordando com eles ou discordando, estamos, de certa forma, escrevendo bons texto, pois a escrita começa aí.


FONTE:
Coluna "Poemas e Canções"
(EDUARDO GAMA)

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